E ele desatou a escrever. As palavras lhe fluíam como bolas de sabão pairadas ao vento. Escolheu o papel por ser o único instrumento em forma de matéria que aceite qualquer objecção sem replicar ou oferecer protesto como resposta. Tinha também pensado em anjos ou algo de carácter extraordinário, mas determinou a si mesmo que não acreditaria nestas essências. Ela abusava da sensatez, da moral e de uma supremacia. Possuía idéias arrojadas, padrões concretos, recheados de uma inquietação sem fim. Acreditava em índule e brandura, mas já não era tão afável como antigamente. Apresentavam a destreza dos que querem bem - ele se esquecia de ponderar, ela se esquecia de tolerar. Possuíam entre si amor e diligência, qualidade de quem é terno - ele era irrelevante, ela era previsível. Compartilhavam de memórias e prazeres - ele era raso e ela inadequada. Ele passou a acreditar que não era estimado - insolência. Ela jurou que o protegeria do mundo - arrogância. Para ambos foi restado: escrúpulo, incerteza e suspeita - atributos de quem se inclina sem hesitação ao amor.